segunda-feira, 21 de março de 2011

O Milagre daTransubstanciação


Transubstanciação é a conjunção de duas palavras latinastrans (além) e substantia (substância), e significa a mudança da substância do pão e do vinho na substância do corpo e sangue de Jesus Cristo no ato da consagração. Isto significa que esta doutrina defende e acredita na presença real de Cristo na Eucaristia. É adotada pelas Igrejas CatólicaOrtodoxaAnglicana e Nova Apostólica.
A crença da transubstanciação se opõe à da consubstanciação, que prega que o pão e o vinho se mantêm inalterados, ou seja, continuam sendo pão e vinho.

Na Igreja Católica e Ortodoxa

A Última Ceia, de Leonardo da Vinci (1452-1519).
O dogma da Transubstanciação baseia-se nas passagens do Novo Testamento em que Jesus diz no discurso sobre o pão da vidaO Pão que eu hei de dar é a minha Carne para Salvação do mundo; O meu corpo é verdadeiramente uma comida e o meu sangue é verdadeiramente uma bebida,[1] e no fato de que Jesus, ao tomar o pão em suas mãos, deu a seus discípulos dizendo: Tomai todos e comei. Isto [o pão] é o meu Corpo, que é entregue por vós.[2]
Dessa forma, a Eucaristia é afirmada como união do fiel à Cristo, de maneira analógica à união da vida trinitária: Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, assim também o que Me come viverá por Mim.[3] A primeira vez que Jesus anunciou este alimento, os ouvintes ficaram perplexos e desorientados, e Jesus insistiu na dimensão das suas palavras: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.[4] A Igreja ensina que há uma transformação da substância, mas não dos acidentes, ou seja, os acidentes como odor, sabor, textura, forma, cor permanecem, mas já não são mais pão e vinho e sim corpo e sangue, por um milagre de Cristo ao proferir as palavras sagradas.
Substância significa o que faz uma coisa ser ela mesma, ou seja sua essência; por exemplo, a forma de um chapéu não é o chapéu próprio, nem é sua cor, nem é seu tamanho, nem é sua aspereza, nem qualquer outra coisa sobre o chapéu perceptível aos sentidos. O chapéu próprio (a "substância") tem a forma, a cor, o tamanho, a aspereza e as outras aparências, mas é distinto dessas. As aparências, que são referenciadas pelo termo filosófico acidentes, são perceptíveis aos sentidos, mas a substância não é.
Quando em sua última ceia Jesus disse: isto é meu corpo, o que ele tinha em suas mãos tinha todas as aparências do pão. Entretanto, a Igreja acredita que a realidade subjacente foi mudada de acordo com o que Jesus disse, e que a substância do pão foi convertida à substância de seu corpo. Ou seja, era realmente seu corpo, mesmo que todas as aparências que são abertas aos sentidos ou à investigação científica sejam ainda aquelas do pão, exatamente como antes.
A Igreja acredita que a mesma mudança da substância do pão e do vinho ocorre em cada celebração da Eucaristia. O pão é mudado no corpo de Jesus; mas dado que Jesus, ressuscitado dos mortos, está vivendo, não somente seu corpo está presente, mas Jesus ao todo, corpo e sangue, alma e divindade. O mesmo é verdadeiro para o seu sangue.
Para a Igreja, por meio da transubstanciação Cristo está realmente, verdadeiramente e substancialmente presente sob as aparências remanescentes do pão e do vinho. A transformação permanece pelo tempo em que as aparências remanescerem. Por esta razão os elementos consagrados são preservados, geralmente em um tabernáculo, para que a Sagrada Comunhão possa ser dada aos doentes ou a quem está morrendo e também, de forma secundária mas ainda muito estimada, para a finalidade de adoração.
O conceito de transubstanciação é acompanhado pela distinção unambígua entre substância, ou realidade subjacente, e acidente, ou perceptível pela aparência. Isso salvaguarda ao que é considerado pela Igreja como dois erros mutuamente opostos: o primeiro seria considerar que a presença de Cristo na Eucaristia é meramente figurativa (pois a mudança da substância é real); o segundo seria a interpretação de que se come canibalisticamente a carne corpórea e o sangue de Cristo (pois os acidentes permanecem reais, não uma ilusão).
Outra origem é a Tradição da Igreja, que se originou com Santo Inácio de Antioquia (107 d.c), Discípulo de São João: Ao confrontar os docetas, grupo gnóstico do primeiro século, que não cria que Jesus tenha tido um corpo carnal, mas era um Deus com um corpo etéreo, pois como prega a Gnose, a matéria seria um invólucro mal, aprisionando um espírito bom, portanto não aceitavam que se comesse o "corpo" de Cristo, já que para eles era matéria e portanto mal em essência. Dizia pois Santo Inácio em sua Carta aos Esmirnenses no versículo 5 : De que me vale um homem – ainda que me louve – se blasfema contra o meu Senhor, não confessando que Ele assumiu carne? , e na mesma carta, no versículo 7 : Abstêm-se eles (os docetas) da Eucaristia e da Oração, porque não reconhecem que a eucaristia é a Carne de Nosso Salvador Jesus Cristo, Carne que padeceu por nosso pecados e que o Pai em sua bondade Ressuscitou.
Seguindo a Tradição, o Quarto Concílio de Latrão (1215) defendeu a veracidade da doutrina da transubstanciação [5] e o Concílio de Trento (1545-1563) afirmou que pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e apropriado, transubstanciação.[6]
A transubstanciação ocorre durante a Missa quando o sacerdote ministerial (padre, bispo) realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo (in persona Christi),[7] repetindo as palavras ditas por Jesus na última ceia: Isto é o meu corpo... Este é o cálice de meu sangue.... A expressão in persona Christi refere-se a algo mais do que em nome , ou então nas vezes de Cristo; para a Igreja, essa expressão significa na específica identificação com Cristo, que é considerado ao mesmo tempo Autor e Sujeito deste seu próprio sacrifício, no que verdadeiramente não pode ser substituído por ninguém.[8] Há uma pequena diferença entre Católicos Romanos e Ortodoxos, os primeiros crêem que a transubstanciação ocorre pela repetição das palavras de Cristo, que tem o poder de transformar o pão em carne e o vinho em sangue. Os Ortodoxos creem que isto ocorre na Epiclese - Frase precedente as palavras de Cristo, onde invocam o Espírito Santo sobre as santas oferendas (pão e vinho).
A Eucaristia é um mistério de fé; dizia S. Cirilo de Jerusalém: Não hás-de ver o pão e o vinho simplesmente como elementos naturais, porque o Senhor disse expressamente que são o seu corpo e o seu sangue: a fé t'o assegura, ainda que os sentidos possam sugerir-te outra coisa.[9] Segundo Paulo VI, toda a explicação teológica que queira penetrar de algum modo neste mistério, para estar de acordo com a fé católica deve assegurar que na sua realidade objetiva, independentemente do nosso entendimento, o pão e o vinho deixaram de existir depois da consagração, de modo que a partir desse momento são o corpo e o sangue adoráveis do Senhor Jesus que estão realmente presentes diante de nós sob as espécies sacramentais do pão e do vinho.[10]
Alguns fenômenos que corroboram a doutrina católica nesse sentido são chamados "Milagres Eucarísticos". Há uma grande variedade destes, sendo que dentre os principais temos os Milagres Eucarístico de Lanciano, Cássia, Orvieto, Santarém, Seefeld, Daroca, Naju, Hasselt, Faverney, Regensburg, Offida, Turim, Ferrara, Siena. Há muitos outros ainda, de menor divulgação, mas não menos importantes para o catolicismo.

Referências

  1.  João 6, 55.
  2.  Lucas, 22, 7-23; Mateus, 26, 17-30; Marcos, 14, 12-26 e João, 13, 2-30.
  3.  João 6, 57.
  4.  João 6, 53.
  5.  CATHOLIC ENCYCLOPEDIA (1913). Fourth Lateran Council (1215) (em inglês). Newadvent.org. Página visitada em 26 de Setembro de 2010.
  6.  Sess. XIII, Decretum de ss. Eucharistia, cap. 4: DS 1642.
  7.  Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 10 e 28; Decr. sobre o ministério e a vida dos sacerdotes Presbyterorum ordinis, 2.
  8.  Carta ap. Dominicæ Cenæ (24 de fevereiro de 1980), 8: AAS 72 (1980), 128-129.
  9.  Catequeses mistagógicas, IV, 6: SCh 126, 138.
  10.  Solene profissão de fé (30 de junho de 1968), 25: AAS 60 (1968), 442-443.

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